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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Un Ataque Anarquista Contra El Gobierno Global (tradução)

Un Ataque Anarquista Contra El Gobierno Global

Este zine foi escrito em abril de 2002. O texto está em espanhol, mas podemos deduzir que foi editado em Montreal, no Canadá, mas provavelmente direcionado pra gente aqui na américa do sul, já que a maioria fala espanhol.

O tema é bem o que discutíamos bastante nesta época, a "Área de Livre Comércio das Américas, ALCA".


Nesta edição:
- Introduccíon
- Crecimiento económico, libre coércio, ALCA y NAFTA
- La guerra contra el terrorismo
- Terrorismo de Estado
- Sosteniendo la deuda
- Alianza com Africa
- Convocatoria a la acción


 

 Segue abaixo tradução do texto original.


 Um Ataque Anarquista Contra o Governo Global

- Introdução
- Crescimento econômico, livre comércio, ALCA e NAFTA
- A guerra contra o terrorismo
- Terrorismo de Estado
- Sustentando a dívida
- Aliança com a África
- Convocatória à ação


Introdução: Governo Global

A importância deste foco multifacetado é frequentemente dita em termos de "governo global". O termo foi definido por um acadêmico como "a totalidade de ações tomadas pelos governos - seja sozinhos, em grupos ou em instituições formais, frequentemente com a ajuda de forças externas - para responder à globalização". Governo global significa levar em conta o fato de que uma economia globalizada significa que ambos os países, ricos e pobres, são peças no sistema de mercado e que, consequentemente, instituições globais e estados ricos com interesses direcionados à "saúde" da economia global têm que endereçar as preocupações dos países pobres também. Eles têm que integrá-los à economia global de tal forma que promovam seu crescimento e desenvolvimento. As instituições que ajudaram e apoiaram os governantes globais em suas tarefas autodesignadas incluem o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM), a OMC, as Nações Unidas e suas várias agências, bem como redes de ONGs comprometidas em projetos de desenvolvimento corporativos e financiados pelo Estado.


A retórica do governo global admite que, em uma economia globalizada, não é suficiente abrir mercados ao comércio e permitir que a riqueza seja acumulada de acordo com as regras do mercado. Em vez disso, estados ricos e industrializados têm a responsabilidade de ajudar o desenvolvimento dos estados menos desenvolvidos para que eles possam participar nos mercados globais com uma posição mais igualitária e para fins mais equitativos e poderosos. A linguagem do governo global soa benevolente, um tanto paternalista e condescendente quando dita pelos chefes de estado dos países Ocidentais mais ricos, dos quais sua riqueza foi adquirida por meio de conquistas coloniais e neocoloniais.


Mas a retórica do governo global não é apenas essa retórica. Os políticos e os criadores de políticas estão começando a ter um certo mal-estar, já que a desigualdade entre ricos e pobres aumenta e enquanto os movimentos de protestos globais ganham força, eles devem de alguma forma continuar os acordos de comércio, suas políticas de liberalização financeira e a primazia do capital global apesar das hostilidades crescentes. Sua conclusão?


"A agenda da globalização será agora ampliada de sua estrutura, quase que exclusivamente processos focados em assuntos-comércio-financeiros para mais inclusividade. uma agenda orientada para um desenvolvimento mais humano e sustentável, ou se enfrentará à crescente hostilidade dos países em desenvolvimento e da sociedade civil. Tal hostilidade continuará a ser um dreno na globalização financeira e comercial, como é expressa nos fóruns internacionais, e resultará na diminuição do apoio político para a liberalização do comércio e das finanças nos níveis locais e domésticos."


Para manter uma aparência de apoio popular para o comércio neoliberal e políticas de investimento, políticos, aproveitadores e todos aqueles com interesse em avançar a agenda capitalista corrente de privatizações e liberalização do





comércio têm que demonstrar ao povo que governam e exploram que eles também estão endereçando assuntos sobre degradação do meio ambiente, violação dos direitos humanos e pobreza. Em um bom discurso imperialista, "as agendas de comércio e não-comércio da globalização" têm que ser "reconciliadas" para proteger a agenda anterior da fúria das comunidades que tiveram suas infraestruturas locais, mercados de trabalho e gênero social devastados por ela.

A linguagem da reconciliação, de qualquer forma, não é ingênua. Não é ingênua porque suas tentativas genuínas de reconciliação só podem ocorrer depois que a agressão tiver sido parada. A agressão parou? As políticas que impuseram fome em Buenos Aires, Argentina, a privatização dos serviços de água e as subsequentes epidemias de cólera na cidade de Alexandra, África do Sul, a expulsão de povos indígenas no México e Guatemala de suas terras ancestrais, a crise de moradias em Montreal ou a criminalização da juventude de rua e das pessoas sem-teto em Toronto, foram revogadas? Vão ser? Não. o G8 e seus seguidores não desejam abrigar qualquer intenção de cessar o avanço na liberdade de comércio, liberdade financeira e privatização dos serviços públicos essenciais em ambos os países industrializados e em desenvolvimento. Na melhor das hipóteses, eles estão endereçando agendas de 'não-comércio' em uma tentativa de se desviar da oposição crescente à exploração capitalista em termos neoliberais.


Crescimento econômico, livre comércio, ALCA e NAFTA

No dia 1º de Janeiro de 1994, os indígenas do Estado Mexicano sulista de Chiapas pegaram em armas. A rebelião Zapatista foi deliberadamente marcada para começar no mesmo dia em que o NAFTA (o Acordo de Livre Comércio da América do Norte) fosse implementado.

O NAFTA é um tratado entre os EUA, México e Canadá. Estabelece o que é chamado de "livre comércio" por suas fronteiras. Isso significa que tarifas sobre bens importados são eliminadas, dando aos investidores dos três países acesso a mercados de outros países. Para os que não são investidores, de qualquer forma, as fronteiras se transformaram em algo ainda mais difícil de cruzar. Desde que o NAFTA foi implementado, a fronteira Estados Unidos-México tem tido mais e mais policiais. Esse é o aspecto essencial do "livre comércio." Facilitando para que o capital cruze fronteiras, mas dificultando para as pessoas, as corporações podem fazer um jogo de força umas contra as outras. Se os salários estão altos demais em um país, ou se os sindicatos estão cortando seus lucros, estas podem simplesmente mudar-se para outro país com salários mais baixos. Desde o NAFTA, centenas de milhares de empregos foram perdidos nos Estados Unidos e no Canadá, porque as fábricas se mudaram para a região baixa da fronteira Estados Unidos-México. Desde o NAFTA, os salários reais decaíram nos três países. No México, os salários nas manufaturas decaíram 21%.

O livre comércio não é igual para todos. Os Governos ricos impõem termos de comércio desiguais contra os pobres. Os países mais fortes protegem suas indústrias mais fracas com tarifas. Isso significa que os termos de comércio entre países ricos e pobres são essencialmente desiguais, o que termina por destruir as economias nacionais dos países pobres. Por exemplo, ao mesmo tempo que o Congresso Norte-Americano aprovava o Fast Track para facilitar o trabalho de Clinton com o NAFTA, eles aprovaram acordos fazendo com que o livre comércio de bens agrícolas e têxteis fosse mais difícil. Uma vez que um país rico constrói setores de sua economia, o faz de tal forma que está sempre com a segurança de ganhar em competição aberta, ele exige acesso igual aos mercados dos outros países. O livre comércio abre a economia do país para a competição com economias maiores e mais dinâmicas e corporações multinacionais bem financiadas (frequentemente bem subsidiadas). As corporações entram, criam plantas para exportação e tiram de competição os produtores locais. As fábricas de donos estrangeiros que são criadas não contribuem em nada para a economia local. 

O NAFTA abriu a economia mexicana para a competição com grandes corporações Canadenses e Norte-Americanas. Um dos resultados é que somente nos dois primeiros anos do NAFTA, 2 milhões de camponeses foram forçados a sair de suas terras, colocados fora de competição e deslocados pelo altamente subsidiado agronegócio norte-americano. Muitas dessas pessoas foram...

...diretamente trabalhar nas maquiladoras possuídas e operadas pelas corporações norte-americanas. O número de maquiladoras dobrou sob o NAFTA.

Em Janeiro de 1999, quando então era Governador do Texas, George W. Bush proclamou que o "NAFTA era bom para o Texas e bom para o México". Isso é verdade se por "México" se entende uma elite de mexicanos ricos. Para a pobre maioria de mexicanos, o livre comércio foi um desastre. Os salários caíram e a pobreza se disseminou. Agricultores, muitos deles indígenas, foram forçados a deixar suas terras diretamente para as fábricas. Mais de 950.000 trabalhadores, a maioria mulheres, agora trabalham nas maquiladoras. Nos Estados Unidos e no Canadá também, a desigualdade de renda aumentou e os salários reais decaíram desde que o NAFTA foi implementado.

De qualquer forma, uma pequena elite de investidores, banqueiros, donos de fábricas, economistas, burocratas e políticos lucraram com o NAFTA e com o crescimento econômico que explodiu. E são essas mesmas pessoas que querem continuar esta situação. A proposta para a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) vai expandir o NAFTA para incluir países da América do Norte e América do Sul (exceto Cuba). Está para ser implementada em Janeiro de 2005, e as conversações já estão em curso para acelerar o processo na América Central. Para preparar o terreno para a ALCA, o Presidente Mexicano e ex-Diretor da Coca-Cola do México, Vicente Fox, está forçando o Plano Puebla Panamá (PPP). O PPP é um plano de desenvolvimento para toda a América Central, e se estenderá do Panamá até o Estado Mexicano Sulista de Puebla. Vai criar portos de águas profundas em ambas as costas capazes de suportar o maior transporte marítimo.


Trens de alta velocidade e rodovias vão passar por todo o continente, conectando os portos e construindo uma rede de novas zonas de maquiladoras. O PPP literalmente vai preparar o terreno para o livre comércio. Vai criar a infraestrutura necessária para que as corporações que tiram vantagem do trabalho barato na Ásia, possam rapidamente embarcar produtos para a Europa e a Costa Leste dos Estados Unidos. E sem que qualquer montagem seja necessária, pode ser feita na América Central. 

Intensificando o acesso corporativo à região, o PPP vai forçar mais indígenas ao desemprego na agricultura, e então vai criar mais uma fonte de trabalho barato para as maquiladoras. Mais terra será privatizada. As rodovias vão passar diretamente por Chiapas. Neste sentido, o PPP é também um plano para se livrar dos Zapatistas, e outros grupos indígenas rebeldes do Sul do México, deslocando os povos indígenas que compõem sua base de apoio. Mas, apesar disso, o PPP é uma tentativa de destruir a resistência que o NAFTA incendiou e, sem dúvidas, vai provocar novos focos de oposição, assim como a resistência já capturada pelas palavras do Subcomandante Marcos dos Zapatistas: "Os 'ismos' não estão à venda."

A Guerra contra o Terrorismo

Após os ataques suicidas de 11 de Setembro, o governo dos EUA declarou a "guerra contra o terrorismo". Lutar a guerra de Bush é uma das prioridades do G8 durante a cúpula em Kanakaskys. De acordo com George W. Bush, "o novo inimigo busca destruir nossa liberdade e impor seus pontos de vista. Nós valorizamos a vida: os terroristas rudemente a destroem."

Essa é uma descrição precisa dos motivos por trás da "Guerra contra o Terrorismo". Antes dos ataques contra o World Trade Center, o governo dos Estados Unidos não tinha nenhum problema em particular com o regime Talibã no Afeganistão. O Talibã foi totalmente financiado pela CIA para lutar contra os Russos durante os anos 80, e receberam ajuda do governo dos EUA depois que tomaram o poder. Imediatamente depois de tomar Cabul em 1996, os líderes do Talibã voaram para o Texas para se encontrarem com executivos da companhia petrolífera Unocal, para os quais a posição geográfica do Afeganistão é chave. Se as corporações norte-americanas vão controlar as reservas de petróleo e gás natural no Mar Cáspio, uma tubulação terá que ser construída para isso. A Unical teria tido planos para construir tal tubulação desde 1995, mas eles pedem um único governo estável no Afeganistão. Isso é o que o Talibã não era. O bombardeio do Afeganistão avança os interesses de grandes companhias de petróleo norte-americanas. Entre 7 de Outubro e 6 de Dezembro de 2001, o bombardeio norte-americano no Afeganistão matou aproximadamente 3767 civis e criou milhares de refugiados.

Mas a "guerra contra o terrorismo" se expande para além do bombardeio do Afeganistão. A globalização capitalista continua a criar pobreza e desigualdade. Os países e grupos com quem os Estados Unidos sempre tiveram brigas podem agora ser chamados de "terroristas", dando aos Estados de todo o mundo um pretexto para aumentar suas forças policiais e militares para controlar o número crescente de pessoas pobres. O racismo e o sentimento anti-imigrante, especialmente nos países privilegiados, foram exacerbados como resultado desta guerra, e estão sendo usados para justificar legislações de imigração draconianas, deportação apressada dos "sans papiers", e a crescente militarização das fronteiras.



Terrorismo de Estado

 A história recente na América Central demonstra como o terrorismo de Estado é usado a serviço do capitalismo. Todos os governos da América Central concordaram com o Plano Puebla Panamá e sua construção está ocorrendo. Este acordo, de qualquer forma, não foi alcançado após um diálogo pacífico. Foi tornado possível por uma longa história de intervenção imperialista. Nos anos 70 e 80 especialmente, houve campanhas militares massivas que esmagaram os movimentos políticos progressistas por toda a América Central. Na Nicarágua, uma revolução em 1979 deixou o governo a cargo dos socialistas. Uma força paramilitar enorme, treinada e equipada pelos Estados Unidos, eventualmente teve sucesso em substituir o governo, deixando mais de 30 mil pessoas mortas. Quando a Corte Internacional de Justiça acusou os Estados Unidos como culpados de colocar minas ilegalmente nos portos da Nicarágua e ordenou que pagassem as reparações, o presidente Reagan disse simplesmente que não iriam respeitar a decisão.

Em El Salvador, uma série de governos brutais, protegidos pelos Estados Unidos, tentou se livrar da influência das guerrilhas socialistas matando povos indígenas que formavam sua base de apoio. 75 mil civis morreram na guerra civil de El Salvador. Na Guatemala, os Estados Unidos apoiaram o genocídio de povos indígenas para fins semelhantes, deixando 200 mil pessoas mortas. A situação na América Central hoje, na qual os governos abaixaram suas cabeças diante da agenda neoliberal, só existe porque ocorreu um massacre massivo e intimidação ao povo que se opôs. A força militar foi usada para limpar o caminho para o desenvolvimento capitalista.

Onde o Plano Puebla Panamá termina, começa o Plano Colômbia. O "Plano Colômbia" foi uma iniciativa do Presidente Clinton, pela qual milhares de milhões de dólares em ajuda militar foram doados ao governo Colombiano, para lutar a "guerra contra as drogas". Esse não foi, claro, o verdadeiro propósito da ajuda. As corporações multinacionais estiveram tentando reter os recursos naturais (especialmente petróleo) da Colômbia e Venezuela por anos. O problema tem sido que existem dois grandes movimentos de guerrilha na Colômbia que demonstraram alguma resistência e atacaram as operações das corporações multinacionais nessa área. Como escreve um ex-professor da Universidade de Guerra dos EUA, "Nos círculos do governo norte-americano, onde a ajuda anti-narcóticos é vista amplamente como uma forma de combater a insurgência pela porta dos fundos, o cálculo é que se nós fôssemos honestos sobre o que estamos fazendo, a oposição política seria tão grande que a ajuda norte-americana à Colômbia seria fortemente reduzida, colocando em retirada ambas as guerras contra o narcotráfico e as guerrilhas."

O governo dos Estados Unidos está, em outras palavras, enviando quantidades massivas de ajuda militar para o governo Colombiano para que ele proteja os interesses das multinacionais, e para limpar o caminho para o desenvolvimento capitalista, matando as guerrilhas, e destruindo as plantações dos pobres cocaleros que...


...(podem) apoiá-los. O fato de que dinheiro e armas doadas ao Governo Colombiano acabam muitas vezes nas mãos de paramilitares assassinos de direita não importa ao governo norte-americano. Como o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, escreveu uma vez, "o bom Senhor nem sempre fez com que as fontes de gás e petróleo estivessem onde estão os governos democráticos".  Em 2001, o Plano Colômbia foi substituído pela Iniciativa Andina, a qual estende a construção de forças militares e policiais por todos os países da região. Um padrão similar ao da história recente da América Central está se desenvolvendo. As elites nos países ricos estão propondo às elites nos países mais pobres que protejam os investimentos e criem um clima que seja bom para os negócios. No processo, milhares de pessoas dos países pobres são mortas, e milhões mais são aterrorizadas até se dobrarem.

Esta colaboração próxima entre o desenvolvimento capitalista e o terrorismo de Estado não vem de agora. O capitalismo nunca foi outra coisa senão brutal. O estabelecimento do capitalismo como sistema econômico dominante durante os últimos 500 anos só foi possível por abundantes provisões de força de trabalho, terras baratas e recursos naturais, ou seja, por comércio escravo e pelo genocídio dos povos nativos das Américas. Hoje, o trabalho barato necessário para o desenvolvimento capitalista é criado forçando os camponeses a sair de suas terras e irem para as fábricas, jogando uma força de trabalho contra a outra, explorando trabalhadores migrantes e por muitos outros programas de governo designados para empobrecer as pessoas. Mas o império ainda é defendido e expandido através da intimidação e da força bruta.

Sustentando a Dívida

Os países ricos emprestaram aos países pobres biliões de dólares. Algo desta dívida foi emprestado por um país a outro diretamente (dívida bilateral) e algo disso foi emprestado às instituições financeiras internacionais a um país (dívida multilateral). Estas instituições, exemplificadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial (BM), são controladas pelos países ricos. Os governos pagam-lhes para que criem uma bolsa de dinheiro que possa ser emprestada, e então para votar nas políticas das instituições com base em quanto eles contribuem. Os países do G8 têm mais de 45% do voto no Banco Mundial e mais de 48% no FMI. Os Estados Unidos, com cerca de 17% do voto em ambos, é o único país com veto efetivo, visto que as decisões importantes no FMI e no Banco Mundial exigem uma maioria de 85% para passar. [1]

Os países pobres receberam originalmente empréstimos para financiar o desenvolvimento de uma variedade de projetos (estradas, barragens, etc.) ou para mantê-los ao lado da Guerra Fria. À medida que o tempo passava, e as taxas de juros dos empréstimos cresciam, o tamanho da dívida cresceu dramaticamente. A dívida total de todos os países ricos era de $100 biliões em 1970. Era de $600 biliões em 1980. Em 1990, era de $1600 biliões, e em 2000, era aproximadamente $3000 biliões ($3 triliões). Eventualmente, os países não podiam sequer pagar os juros dos empréstimos, e foram forçados a contrair mais empréstimos para cobrir os seus pagamentos.

Estes empréstimos, estipulados maioritariamente pelo FMI, vieram com condições. Para receber esse dinheiro, o país tinha que se submeter ao Programa de Ajuste Estrutural (SAP). Os gastos do governo em saúde, educação e comida/moradia tinham que ser cortados, para libertar mais dinheiro destinado ao pagamento da dívida. Mas a economia do país tinha que ser direcionada para a exportação, para que assim pudesse gerar mais dinheiro para cobrir a dívida. O país também tinha que abrir os seus mercados, tentar atrair o investimento e encorajar o livre comércio. Nenhuma dessas coisas eram optativas: elas eram e continuam a ser as condições para receber novos empréstimos. Se um país pobre falhar em aderir aos ditames do FMI, pode ser posto na lista negra e ter a sua economia destroçada. Assim, a dívida atua de ambas as formas, ou seja, para obter lucro dos países pobres, já que pagam muito mais do que tomaram emprestado originalmente, e como forma para controlá-los.

Para as pessoas dos países endividados, o ajuste estrutural é devastador. Na Tanzânia, onde 40% das pessoas morrem antes de completar 35 anos, o gasto nacional no refinanciamento da dívida é 6 vezes mais alto que o orçamento de saúde. Em todo o continente africano, gasta-se 4 vezes mais no pagamento da dívida do que em saúde. Desde que o FMI começou a administrar as economias da região, o total da dívida externa da África aumentou 400%.

Como resposta à crescente oposição contra o montante de dívidas de muitos países do Sul, e contra o aumento indiscriminado da pobreza, o Banco Mundial e o FMI garantiram um alívio mínimo da dívida. Em 1996, em coordenação com...


...os países do G8, lançaram a Iniciativa para os Países Pobres Altamente Endividados (HIPC), a qual é uma tentativa de reduzir a dívida a níveis sustentáveis. Sob a iniciativa HIPC, países que são classificados como pobres e que têm dívidas externas enormes são eleitos para ter uma certa porção de sua dívida bilateral e multilateral cancelada. A soma do alívio da dívida, de qualquer forma, raramente é suficiente para fazer alguma diferença. Quando o G8 se encontrou em Colônia, Alemanha, por exemplo, anunciou que os países membros iriam perdoar $45 biliões de dólares em dívidas pelo HIPC. Naquela época, no entanto, a dívida total HIPC era de $207 biliões. Desses $207 biliões, os países estavam pagando realmente somente os juros de $100 biliões. Isso significa que os credores haviam basicamente admitido que os outros $107 biliões já haviam sido pagos.

A iniciativa HIPC (Iniciativa para os Países Pobres Altamente Endividados), a qual foi orgulhosamente exibida pelos líderes do G8 na Cúpula de Génova em 2001, levanta a questão: se a maioria pobre nos países pobres pesadamente endividados sofre porque os seus pagamentos de dívidas desviam dinheiro das provisões de serviços sociais básicos, por que é que as dívidas externas do HIPC deveriam ser consideradas sustentáveis? Igualmente, por que é que os Estados do G8 sustentam a traição do Banco Mundial e do FMI promovendo formas limitadas de alívio de dívida condicional com as reformas neoliberais sociais, estruturais e económicas, como recomendado no Papel de Estratégia para a Redução da Pobreza do FMI?

A resposta é óbvia: a redução da dívida é uma ferramenta do imperialismo usada para impor o "consenso" ditado pelo capital transnacional e articulado pelos líderes que os ativam em ocasiões como as Cúpulas. Michel Camdessus, o ex-Diretor Administrativo do FMI, disse: "se aprendemos algo sobre a redução da dívida, é que não é tanto o montante de redução da dívida (claro que isso importa, e muito). Mas o que mais importa é a qualidade e duração do esforço económico que tem que a apoiar e criar uma mudança para melhor. Isso, é claro, leva a mensagem sobre como o dinheiro deve ser gasto no alívio de dita dívida. Tem que ser de tal maneira que crie incentivos para que os países continuem com os ajustes e reformas. E nós temos que ser criativos para isso." Uma tal mudança criativa veio em 1999, quando o FMI e o Banco Mundial substituíram o Programa de Ajuste Estrutural pela Redução de Pobreza e Facilidade no Crescimento (PRGF). Novo nome, mas a mesma forma de imposição imperialista das políticas neoliberais.

Mas enquanto os líderes do G8, como Jean Chrétien, promovem os seus esquemas de alívio da dívida com a ajuda de Bono e Bill Gates, outro movimento está a crescer. O Movimento do Jubileu do Sul, formado em 1999 como uma assembleia dos movimentos do Sul, não está a exigir a redução da dívida, mas sim o cancelamento total de todas as dívidas dos países do Sul. O Jubileu do Sul recusa-se a tratar a redução da dívida como um gesto altruísta de países ricos, ou como uma medida de segurança internacional para assegurar os países ricos contra o ressentimento dos pobres. Melhor ainda, o cancelamento total tem como slogan o reconhecimento de que é o Norte que deve histórica, ecológica e moralmente...


...aos povos do Sul. Isto é, que os do Norte deveriam estar a pagar aos países do Sul pelas centenas de anos de exploração. Sendo assim, o Jubileu do Sul reconhece que o FMI e o Banco Mundial não podem ser reformados: "O FMI e a OMC não têm autoridade moral para impor condições e não têm capacidade para providenciar soluções aos problemas que criaram e pensam perpetuar". Têm que ser destruídos!




Convocatória à Ação

Com respeito a toda a retórica, o governo global não consegue fazer um trabalho para superar as vastas desigualdades para estratificar o globo por linhas de raça, classe e gênero. E as cúpulas do G8 não são fóruns nos quais a redução da pobreza possa ser coordenada. Quando os chefes dos países mais ricos e poderosos se encontram, eles trabalham em como aprofundar seus próprios planos, e isso para os capitalistas que querem se manter no poder. Quando eles dão empréstimos e quando reduzem a dívida, quando enviam tropas e ajuda, quando falam sobre desenvolvimento e quando falam sobre redução da pobreza, tudo está orientado pela lógica da guerra de classes do lucro e do controle. Suas políticas e relações pessoais se refletem nas estratégias básicas do capitalismo e do governo: controlar pessoas e dividi-las, para que possam tirar lucro delas. Junto com a ideologia estatalmente planificada e militar do capitalismo, uma ideologia chamada alternativa se desenvolve.

Algumas pessoas argumentam por um capitalismo melhor ou gentil. Elas dizem que nós devemos fortalecer o governo, nacional e internacional, para contrabalançar as manifestações mais opressoras e tendências predatórias do capitalismo. Essa linha de pensamento cai bem dentro da lógica do capitalismo que dirige o governo global e não representa ameaça para ambos. Os mandatários do governo e dos negócios se apropriam da reforma da linguagem e continuam roubando. Eles falam de redução da pobreza quando impõem pobreza. Eles apelam aos direitos humanos para justificar o genocídio. Eles falam de alianças enquanto perpetuam o apartheid global. A retórica do governo global se transforma nas luvas de pelúcia da mão escondida do mercado e da mão de ferro dos militares.

O governo global não deve ser negociado, deve ser atacado.

O ataque já está a caminho. A luta mundial contra o capitalismo é liderada por movimentos do Sul Global, onde a pobreza e a repressão estão mais concentradas. Na Argentina, por exemplo, um país que esteve sob políticas econômicas neoliberais por décadas, um forte movimento de trabalhadores desempregados, chamados os Piqueteros, se desenvolveu. Organizados em assembleias de bairro, el@s cortam rotas principais a fim de paralisar o comércio e pressionar suas exigências sobre o governo cúmplice e corrupto. Eles formam a espinha dorsal do movimento de protesto que expulsou o presidente em Dezembro de 2001. No Brasil, membros do MST, que conta com centenas de milhares de camponeses sem-terra, ocupam a terra e semeiam plantações para sobreviver, enquanto criam seus centros de educação e saúde alternativos.

Inspirados por essas e outras lutas, @s anarquistas estão se organizando como parte de uma resistência de base dentro do império capitalista global. Anarquia? A palavra "anarquia" vem do grego e significa "sem governo". Como filosofia política, o anarquismo é baseado na crença de que a organização não precisa de hierarquia. A sociedade pode e deve ser organizada com base no apoio mútuo e...


...na livre associação, sem polícia, políticos ou patrões: dominação e exploração devem ser atacadas onde quer que existam. Somente para aquel@s que erroneamente creem que a organização está necessariamente relacionada com hierarquia é que a palavra "anarquia" significa "caos".

Nós rechaçamos a lógica do lucro e, em vez disso, estamos nos organizando sob uma economia que produza para preencher as necessidades de tod@s. Estamos tentando criar uma sociedade sem classes, sem propriedade privada, na qual as decisões econômicas são feitas democraticamente pelas comunidades. Estamos aperfeiçoando formas descentralizadas de democracia direta nas quais as decisões coletivas estão diretamente nas mãos das pessoas e das comunidades que são afetadas por elas. Estamos empurrando as fronteiras imaginárias que dividem as pessoas e argumentamos por um verdadeiro internacionalismo que rechaça todas as fronteiras que impedem o movimento livre e a dignidade completa dos seres humanos. Nós @s esperamos criar uma sociedade sem governo, baseada na liberdade, igualdade e solidariedade internacional.

Mas sabemos que aqueles que lucram sobre a miséria e a exploração farão tudo o possível para manter o mundo como está, e somente através de uma luta prolongada em diferentes frentes nos moveremos em direção a tal sociedade. Em vez de respostas fáceis, nós @s oferecemos uma convocatória à ação, solidariedade e luta.

Este panfleto é um produto de discussões e debates com um grande número de pessoas, em Montreal e outros lugares, e gostaríamos de agradecer a tod@s. Se você achar este panfleto algo útil, pense nele como uma articulação de uma análise coletiva que estamos todos construindo nos lugares em que vivemos, trabalhamos e resistimos (se o odiar, bem, então, devemos discutir).

Obrigado também a tod@s que nos enviaram fontes úteis e que traduziram e leram, aos membros da CLAC, às pessoas que fizeram o trabalho sujo para que nós @s tivéssemos tempo para escrever, para os companheiros de quarto e amigos que nos alimentaram enquanto trabalhávamos, para os trabalhadores da TAO que mantiveram nossos e-mails voando suavemente e para as pessoas que nos disseram para desistir de ser tão perfeccionistas.

Finalmente, obrigado a tod@s @s que lutam por justiça.


Amor e raiva
Para nos contactar escreva para: montreal@tao.ca

Montreal
Abril 2002


terça-feira, 25 de outubro de 2022

Aktiva Lingvo #1

Aktiva Lingvo, esperanto kaj anarkio, jaro II, nº1, aŭgusto 2001. São José dos Campos, São Paulo.

Nesta edição | En ĉi tiu eldono:

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