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segunda-feira, 6 de junho de 2022

Movimento contracultural acreano: Da utopia ao sonho, do sonho a utopia?


ASSIS, Andreson Silva;

SILVA, Lenine Flamarion


Introdução

A presente comunicação (...) objetivo

Um sobrevôo Global

Estamos vivenciando intensas mudanças em todo mundo, dada à complexidade dos fenômenos, agravadas no decorrer dessa imbricada historicidade, a qual os conhecimentos, economia, governos, estados, técnicas, ciências... Gestados em sua periodicidade, não mais “dão conta” dos anseios requeridos pela cotidianicidade, pelo menos da maioria da população que demanda por uma experiência humana mais inclusiva em termos emancipatórios. É o mundo que o sociólogo Atílio Boron aponta como o “resultado da civilização capitalista, que, como o monstro das mais espantosas alegorias, devora seus filhos, esgota seus recursos não renováveis e destrói irreparavelmente o meio ambiente de que nossa espécie necessita para sobreviver”(BORON, 2004). É nesse momento de crise de acumulação que o sistema capitalista, este entendido como algo essencialmente contraditório e autofágico por natureza, busca adequar suas formas de denominação e exploração, é precisamente neste momento que se aprofundam as contradições e injustiças sociais, impossibilitando seu continuísmo. O resultado da reorganização capitalista é, portanto, a recriação dos limites acerca das suas próprias contradições, pois carrega consigo os germes de sua destruição em uma luta continuada para constituir-se (SILVA, 2008).

Dos anos 90 para cá, em especial 1999/2003 o mundo foi sacudido com uma onda de ações a aparición de un movimiento global, múltiple, metamórfico, intermitente (…) intenso ciclo de movilizaciones, eso que em un principio se denominó movimiento 'antiglobalización'(...) com uma sorprendentes innovaciones rompedoras com el pasaso (…) que han cuestionado las formas de organización política del siglo XX.

Vê-se a insurgência dos dias de ação global, a começar com o Ação global dos povos AGP. Um chamamento dos Zapatistas em 1996 para um encontro internacional de ativistas e intelectuais em  Chiapas México, com o escopo de se discutir estratégias comuns, problemas e soluções, Seis mil pessoas atenderam ao chamado, e passaram dias conversando e compartilhando suas histórias de luta contra o inimigo comum: o capitalismo. Deste modo, foi num encontro no anos seguinte na Espanha que surgiu a idéia de uma campanha global mais concreta, chamada Ação Global dos Povos, a qual foi parida por um grupo formado por dez dos maiores e mais inovadores movimentos sociais, incluindo o Movimento Sem Terra brasileiro - MST e o Sindicato dos Agricultores do Estado de Karnataka ( KRRS), dos agricultores radicais da Índia (Ibidem).

Um breve olhar na Amazônia, em especial no Acre.

Vemos a insurgência na Amazônia nos anos 90 de políticas de “desenvolvimento sustentável” com ampla participação da “sociedade civil” dado aos perigos da degradação ambiental, culminando em sua “crise”, governos que se dizem preocupados e direcionados aos “povos da floresta” e seus anseios sociais, econômicos e ecossistêmicos, dando-os representação e vez, através, do “discurso florestânico”preconizado pelas políticas atuais nos estados, em especial no estado do Acre. 

Políticas públicas governamentais propagadas com vieses simbolísticas de dizer que a “sociedade civil” são atores principais e receptores das benesses das ações governamentais: em termos sociais, econômicos, etno-cultural e ambiental; no entanto se torna pertinente fazer uma introspecção a cerca das “reformas do estado”, (exigências da agenda neoliberal) com suas formas de “reordenamento das relações de poder”, para ativar os meios necessários à dominação.

Protesto y Resistência da contracultura no estado do Acre

Nesse jogo entre “ordem e desordem mundial”, jaz não só políticas de dominação sobre os povos, no entanto, nesse cenário insurgem atores contra-hegemônico, portadores de novas e ricas territorialidades. Portanto neste cenário afloram resistências! “resistências que não acontecem apenas pela defesa de territórios culturais próprios, muitas vezes opressivos ( como no caso de certo tipo de islamismo), mas também pela organização de novas redes – ou novos “territórios-rede”- como muitas que defendem hoje causas ecológicas, indígenas e de tantos outros grupos oprimidos e/ou excluídos ao longo do planeta” (HAESBAERT & PORTO GONÇALVES, 2006).

Com esse espírito libertário, em meio a estas contradições, revolta-se novas formas de luta, almejando possibilidades concretas de organicidade através das experiências, rumo à construções de novas subjetividades. E, como síntese dessas mudanças, novas possibilidades, se abrem ressignificando em ações contraculturais. “se por cultura entendemos um conjunto de valores que empresta sentido as nossas práticas, contracultura implica exatamente a busca de outros sentidos para o devir humano” (Ibidem, 2006, p. ?)

Pequeno histórico

Apesar de não ser divulgado nos meio de comunicação no estado do Acre, existe uma “cultura underground”- marginal contestante que relata a realidade de outras identidades, ao invés de exaltar os mitos e heróis de uma história alienante e ludibriante em volto da acreanidade ,pois “no discurso identitário do Governo da Floresta, índios e seringueiros são os “verdadeiros” acreanos, são aqueles que “nos deram tudo”, um território, um governo”( MORAIS, 2008, P. 17). Identidade essa forjada em meio à uma multiplicidade identitárias presentes no território Acreano. 

A partir da última metade da década de 1990 com a ascensão dos ditos partidos de “esquerda” ao poder, jaz uma miríade de ativistas contraculturais (vários grupos) não se calando de ante dos fatos, “relatando a miséria nos campos e na periferia urbana”, com protestos e questionamentos dos impactos “relacionados ao que o governo chama de 'remanejo florestal' e o 'desenvolvimento sustentável'”. Amplamente endossado por organismos externos, tais como o banco mundial e seu projeto de “DS”.

Nos anos que compreende o período de 2005-2007 em específico o Acre presenciou a ação de um movimento também diverso, fluido e metamórfico que abalou as ruas da capital Rio branco em uma onda de insurgências, ativistas contraculturais, tipo Reclaim the streets local, com pautas condizentes com as reivindicações ocorridas globalmente, anticapitalistas, antiestado, anti ALCA, antimilitarismo/guerras, corporações transnacionais e as agências do capital financeiro internacional (OMC, FMI, BID) entre outras in locu. Tais como exposto metaforicamente por Jones em “dos pés virados do curupira”, mas como o curupira, seringueiro não rima com patrão. Curupira, muito menos, fora, fora, fora (...) curupira, fora de dentro. Fora daqui. Fora do padrão, da ordem, da forma, do consenso, do caminho único. Do pensamento único. Não obstante, dado a mundialização dos mecanismos de reestruturação do capitalismo, e suas políticas imperialistas e predatórias, tais como as advindas do receituário do consenso de Washington.

Da utopia a realidade: o surgimento do coletivo carapanã

O ano de 2005 foi um recorte de tempo que se imortalizou na memória do povo acreano. Muitas  manifestações, locais, contra os abusos praticados por empresários do transporte coletivo e os pecuaristas. Os primeiros, os donos das empresas de transporte, elevaram a tarifa. Para uma cidade como Rio Branco, de curtas distancia, com uma população de aproximadamente 300 mil habitantes, e se compararmos com as mega-capitais, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, o valor para se locomover era um absurdo.

Para contribuir ainda mais com a tensão que foi este período, atuantes em palco, estavam os grandes fazendeiros. Nos meses de agosto, setembro e outubro deste ano, por algumas vezes, o aeroporto internacional de Rio Branco, teve seus pousos e decolagens cancelados, devido à má visibilidade provocada pela fumaça das queimadas. Crianças e idosos lotavam os postos de saúde de todo o estado, com problemas respiratórios.

Vendo-se exposto, o “governo da floresta”, age indo a público relatar que toda aquela poluição estava sendo laçando na atmosfera pelas queimadas oriundas do estado do Mato Grosso.

A imprensa seguiu ordens de seus mandatários, o governo do estado, e afirmou em jornais impressos e televisivos, que os pequenos agricultores acreanos também tinham uma parcela de culpa na poluição que pairava sobre este estado da federação brasileira. Devido a sua “arcaica” forma de cultivar. Mas ao invés de exibirem fotos e cenas de pequenas extensões de terra, expunham matéria de grandes latifúndios, pastagens.

A mão dominadora do estado abarcava também a cultura. Além da imprensa televisiva e impressa, o discurso hegemônico era difundido e defendido por pequenos grupos que se intitulavam como os verdadeiros e únicos expressionistas da cultura acreana. A música, o teatro e as artes plásticas eram permeados por mitos, ritos, e a retórica da elite dominante. Os espaços públicos e privados eram monopolizados por esses grupos e voltava-se para as camadas mais abastadas da sociedade excluindo uma grande parcela.

Em meio a todo este cenário de imposições e contradições germinava o Coletivo Carapanã. As fontes tanto escritas quanto orais nos relatam que os primeiros passos para o surgimento do coletivo se deram, com a ação de diversos atores sociais de diferentes tribos urbanas, de concepções libertárias e libertadoras que visavam à contraposição aos ditames e as alienações impostas pelo poder. Em reuniões que eram realizadas no “Half Park” ( local destinado à prática do skatismo), praças públicas e na casa de algum integrante, esses atores concluíram em criar um movimento de resistência que possibilitasse uma alternativa às manifestações culturais marginalizadas onde estas pudessem expor suas obras autorais. E o primeiro ato desse grupo configurou-se na “I Mostra de Cultura Alternativa”, realizado em meados do mês de maio de 2005.

O local denominado “Espaço ECO” abrigou uma multiplicidade de expressões contra-culturais, que ecoavam do hip hop ao hard core, grafitagem, exposições de fanzines, artesanato, poesia. Entre uma banda e outra, exibições de teatro e malabares. É interessante ressaltar que este evento se deu de forma coletiva e quebrou com os padrões de modelos até então utilizados de produção de eventos culturais “empenhados em revolucionar a arte de modo geral no estado”(Coice core zine, 2007).

Além da mostra, surge também, em meio às reuniões aperiódicas, o Informativo Carapanã. O editorial do informativo dava-nos as suas características. “... uma oportunidade de expressão de idéias de maneira abrangente e organizada”(AMORIM & OLIVEIRA, 2007), que derivava das conversas diárias sobre os problemas cotidianos, falava-se de auto-gestão, solidariedade, propondo a quebra de padrões autoritários, egoístas e pré-concebidos. Este aperiódico teve a sua primeira edição lançada na I Mostra de Cultura Alternativa.

O resultado desta atitude anti-sistêmica, pode-se perceber uma aglutinação de outros indivíduos integrantes ou ex-integrantes de outras organizações sociais resultando no Coletivo Carapanã.

Sua organização se dava de uma forma auto-representativa não hierárquica, as decisões eram tomadas em reuniões onde as propostas eram expostas e aceitas sendo postas em ordem de imediaticidade. 

As ações estavam voltadas para a colagem de cartazes. Estes carregados de críticas às ações governamentais, e suas várias formas de manipulação do povo, eventos culturais e protestos, “as lutas contra hierarquias, a homofobia, o sexismo, o racismo, o militarismo e a destruição ambiental orientavam-se todas pela idéia de autonomia da igualdade e respeito às diferenças em todos os níveis e de liberdade entendida como direito à participação direta nas decisões” (RYOKI, 2004). As ações impetradas pelo Coletivo Carapanã contra o neoliberalismo, da instância do micro ao macro, em todos os seus níveis de reprodução, em uma escala crescente, começaram então a chamar a atenção e a preocupar os detentores do poder e a ganhar espaço na mídia local.

7 de Setembro de 2005

Assim como enfatizou LUDD em dias de ação global dos povos, onde a mídia burguesa forjou o momento como sendo um “movimento antiglobalização”, numa perspectiva ossificada, o que nas falas dos participantes do AGP não passa de um fetiche, pois a revolta “não pretende ser um retrato totalizante dos grupos e pessoas – seus pensamentos e formas de ação”. Desta forma, esse trabalho seguiu essa máxima, pois o momento histórico 7 de setembro de 2005 em Rio branco/ AC não era em si um movimento cristalizado, mas, uma ação de uma multiciplicidades de atores sociais. Deste modo, as ações contestatórias nas ruas de Rio Branco foram organizadas praticamente por “grupos de afinidades de forma autogestionária, isto é, não hierárquica, não burocrática e autônoma”. E, portanto as inferências aqui relatadas expressam nossa singularidade enquanto participante, como músicos, estudantes, militantes sobre o fenômeno, não expressando a totalidade dos fatos.

Um dia em que revoltar-se foi justo

O informativo Tukandeira, lançado em 2007, nos expressa com exatidão o que representou o dia 07 de setembro de 2005. Dia de desfile militar, em homenagem a “independência” do Brasil, proclamada por D. Pedro I, do julgo da metrópole portuguesa, “... ficará marcado na memória de muita gente e serviu de experiência para as pessoas envolvidas em tudo o que aconteceu.” ( Tukandeira, 2007).

Como foi abordado anteriormente, uma das ações do coletivo era criticar as formas de ludibriar o povo, utilizado pelo estado, a data comemorativa nacional, o 07 de setembro, foi alvo certo.

Havia um bom tempo que os conceitos de independência, de colônia, do Neo Colonialismo e as ações Neo Liberais vinham sendo abordadas nas reuniões do Coletivo. Logo após a I Mostra da Cena Alternativa Acreana e a criação do Coletivo, o próximo passo após a colagem de cartazes, era realizar uma manifestação para chamar o povo a exercer seus direitos e a enxergar a luz fora da caverna, afastando-se das sombras projetadas pelo poder hegemônico, à data comemorativa foi escolhido, devido à grande aglomeração popular influenciados pelo viés “ patriótico nacionalista”. Os preparativos para o dia escolhido iniciaram-se no mês de agosto, do mesmo ano para que se desse a confecção do material que seria utilizado no dia escolhido para o protesto: cartazes, faixas, panfletos, assim como seu armazenamento.

O Coletivo teve a necessidade de obter uma sede. A necessidade fora sanada com a descoberta e em seguida a ocupação de um espaço que durante algum tempo considerava-se estar abandonado. O local que no passado havia sido comitê do Partido dos Trabalhadores, as condições físicas e estruturais estavam precárias, mas com o coletivo o espaço ganhou vida nova.

A localização da ocupação por sorte do destino estava próximo ao “teatro das operações”, centro comercial e administrativo da capital acreana Rio Branco.

Antes da manifestação programada, dois dias antes, dia 05 de setembro data designada ao dia da Amazônia, cartazes, com críticas ao “desenvolvimento sustentável”, foram espalhados pelos principais locais da cidade, instigando o povo a questionar.

Um clima de tensão pairava no ar e entre o anoitecer da véspera e o amanhecer do dia 07, as autoridades locais jamais imaginaram que algo pudesse acontecer. Os relatos nos informam que ao raiar do dia combinado paulatinamente os integrantes do Coletivo foram chegando.

Latas de tinta foram transformadas em instrumentos de percussão, e, juntamente com os apitos, começaram a entoar a melodia que naquele dia seria a sua trilha sonora. Faixas foram esticadas, os cartazes e placas foram distribuídos.

Contudo, na hora de entrar na avenida em pleno desfile comemorativo lá não somente encontravam-se os membros do Coletivo. No processo preparativo que culminou no dia 07 de setembro, o Coletivo juntamente com outros atores sociais, formaram uma rede de ajuda mútua em objetivos em comuns, ”a forma de funcionamento de rede é bastante diferente. Redes não são organismos com uma estrutura organizacional definida ou com posições uniformes – elas são flexíveis, fluidas, plurais, e descentralizadas” (Ibidem, 2004, p 17).

É importante ressaltar que os contatos entre o Coletivo Carapanã não se resumiam ao movimento estudantil da UFAC e seus professores em estado de greve, mas também a pessoas ligadas às lutas camponesas e uma pluralidade de atores sociais, constituindo uma ampla rede de discussões e informações. 

Com a unificação dos diversos atores sociais ligados a vários movimentos: estudantes, coletivo, camponeses, professores, o pessoal que ia passando e simpatizaram com a ação. Uma barricada de seres humanos sedentas por seus direitos foi formada do lado oposto do cordão de isolamento separava o povo do exército.

Aquela movimentação chamou a atenção. Os órgãos de repressão do estado foram acionados, com tudo os manifestantes não foram desarticulados, a meta era desfilar na avenida expondo seus anseios, suas críticas estampadas nas faixas e cartazes, em conjunto com suas mãos calejadas e suas faces marcadas pelo sol bravio. Quando ouviram o estrondar dos coturnos ao chão perceberam que havia iniciados o desfile militar.

A mesma polícia que tentara sem êxito desmobilizar a manifestação, agora mostrava sua verdadeira face, serventia, defender a elite detentora do poder. Naquele momento quem não concordava com o dizer de um dos cartazes “abaixo a ditadura” mudou rapidamente sua concepção e viu os restos dos direitos civis que ainda restavam serem negados, lembrando-se do tempo da ditadura. A pancadaria foi geral, muitas pessoas agredidas de ambos os lados, alguns manifestantes foram presos.

Impacto imensurado provou a movimentação do dia 7 de setembro de 2005, por vários dias a ação foi destaque na imprensa local. A mando do governo, num processo inicial de desmobilização a imprensa acreana taxou a atitude de baderna e seus atores arruaceiros formando a opinião pública. Apesar desse processo desarticulador envolvendo todas suas instâncias de poder, houve um forte avanço no processo politizador dos “acreanos”. Até os dias atuais pode-se houvir entonando pela floresta gritos de manifestação setembriana como reverberou o “protesto y resistência” da banda hard core Guerrilla PA44; “ ao sete passou e muita gente se reuniam para pedir alegria para querer folia e sonhar para sempre o sonho da mudança para melhor, não a mudança da ponte da passarela, que estavam tirando seus becos e suas amigas e amigos, e mandando todo mundo para becos periféricos(...).

Diversidade Coletiva

É claro que dado ao sistema social em que vivemos a pobreza econômica condiciona e se faz um obstáculo à “cidadania,”, mas, não em absoluto; outras formas alternativas criativas podem levar a superação desse fator. E é de forma participativa/coletiva em ajuda mútua: contribuições, organização de eventos na faculdade e no interior do estado; de forma engenhosa a adquirir fundos a suas ações: estúdio, shows, pequena distro-gravadora, que encontrar-se o diversidade coletiva, alternativa a monopolização dos acessos culturais, rumo a “auto-gestão”. Segundo demo, não é com ajuda que se faz auto-sustentação/gestão. “Ao contrário, a dispensa de ajuda é o começo da auto-gestão.” Ela é uma conquista coletiva. “é correta a critica que vê no Estado um agente desmobilizador, porque faz parte da lógica dinâmica do poder”; exemplo: a ajuda- política social, como exclusividade do estado; (segundo alguns tecnocratas, ignora-se que haja política social fora do estado, até porque algumas se fazem contra o Estado, ou apesar do estado, ou à revelia dele) vê-se que é uma ação que nega a tutela do Estado, aspirando uma ação ante-Estado. “não há liberdade, se mantida por outrem”.

O poder detesta ser controlado”. E por isso se travesti das mais variadas formas para sua manutenção; vê-se a instituição de manobras inteligentes do poder e formas pacificas, ideologizadas de manutenção e contenção dos pequenos contingentes críticos ainda insurgentes, como: bandas, poetas, grafiters, skatistas, teatros de rua, universitários, doctor´s, participantes de coletivos, desempregados(as), camponeses(as)... outrora, e ainda existentes no Estado. É cada vez mais intensa a cooptação desses atores através dos mecanismos do “ aparelho hegemônico de cultura do Estado” com a capa de coletivo, participativos e dialógicos. Disseminando ao consenso. Veja-se o exemplo de uma resenha do evento- norte noise das bandas Guerrilla e Scalpo; como o teor da origem de uma banda e os fatos das relações sociais existentes são distorcidos através de práticas discursivas: “Diversificado, o palco do Norte Noise comportou bandas e atitudes diferentes. A Guerrilla PA 44, responsável pela parte musical e cultural do Coletivo Carapanã, marcou presença no palco com letras fortes, contestando as falhas do Estado e contra tudo que aí está. E falando neles, a banda se apresenta dia 25 no palco do DCE, mesmo local onde aconteceu na última sexta o show do Los Porongas. E se eles começaram pra revolucionar, a Scalpo só queria se divertir. “Éramos uma turma de amigos que gostava da mesma música, e que começou a brincar de fazer barulho” . “Tivemos uma evolução natural nesse tempo” (scalpo) ( blog catraia) . Nota-se como a engenhosidade das práticas discursivas Camuflam o explicito antagonismo histórico operante no nosso cotidiano, referentes às práticas culturais; suprimem todo o conteúdo das letras da scalpo, como se fosse destituída de protestos sociais... tentam associar a Guerrilla aos Porongas, por terem tocado num espaço contíguo, é muita forçação de barra... colocam a Guerrilla como responsável pela parte cultural do Coletivo Carapanã, e as outras vozes do coletivo?; e o viés ocidental: de uma idéia de uma natureza universal e por conseguinte culturas singulares “tendo um só mundo e muitas formas de vivê-los, A Guerrilla PA 44 tem a sua... e é responsável pela a sua...

“O Estado aprecia participação enquanto for fonte de justificação ideológica, ou seja, enquanto não atrapalha”. ( Demo,1999).

Formas alegóricas e midiáticas de apropriação escandalosa de idéias trabalhadas em outros tempos, por inúmeros coletivos: Kasa Verde, Coletivo Carapanã, Empate Informativo, Diversidade Coletiva... sendo resignificados, tendo esse teor da origem, expresso acima, construído historicamente “silenciados”. Tendo essa forma reapropriada com a tipologia Coletivo Catraia, como se fosse práticas idens, alternativas jamais ocorridas, massificadas no consciente coletivo no Estado do Acre e no resto do país, via Circuito Fora do Eixo (uma extensa rede de trabalhos interativos, mas longe de serem independentes/chegarem a auto-sustentação como é falado, dado a dependência do aparelho do estado/Empresas... - não generalizando á todos os cantos do país ).

Parafraseando Lênin “Os fatos são teimosos, mas, mais teimosos ainda são as idéias por resistirem aos fatos insistentemente”. Uma ínfima prática reflexiva e nexológica de qualquer apreciador dos fatos históricos irá constatar a real genealogia dessas imbricadas relações em curso na questão supracitada... na localidade e verá quem está a tempo, trabalhando e resistindo de forma aguerrida, com criatividade, ante brutais mecanismos, de alienação e desmobilização.

Viva a autonomia! Do(as) consciências; coletivos; inteligências que como nosotros estão cientes desse curso outrora nebuloso, de sua ações presentes, e perspectivas rumo ao horizonte. “Mostre-me algo que soe real, verdadeiro; mostre-me algo feito com ódio e emoção, mostre-me algo sincero, cheio de atitude, uma nova chama, um foco de inovação. Tudo plágio, tudo cópia, tudo falso, tudo hipócrita (...) os heróis estão entre apenas os “dez por cento”; a arte, o ideal , nunca se prostituirão (banda Ação Direta!!!)

Considerações finais

No período que compreendeu o início de 2005 aos dias atuais, várias ações contra a hegemonia do capitalismo, este disfarçado no termo “desenvolvimento sustentável”, foram perpetradas. Apesar da cooptação de alguns, falta de coerência de outros e a submissão aos ideais burgueses, o movimento contracultural não parou suas ações, apesar de momentos de estagnação, se (re)inventando, ressurgindo no “sonho”(utopia) “pensando à frente e olhando pra trás é que a gente entende que podemos bem mais vou fazer meu caminho, se nenhum me satisfaz tenho compromisso: fazer meus sonhos reais(..) ”de unificação dos alunos do centro de filosofia e ciências humanas, em um coletivo como espaço de resistência, produção interdisciplinar de conhecimentos e diálogo a serviço do povo; com vistas a radical transformação do tecido social, se posicionando em uma práxis política, em uma arena de relações de forças.



REFERÊNCIAS

AMORIM, Álvaro; OLIVEIRA, Mari-kelly. A emergência do anarquismo em Rio branco, Universidade Barão de Rio branco- UNINORTE ( monografia de graduação em ciências sociais, 2007).

DEMO, Pedro. Pobreza política. Autores associados, Campinas, SP, 1999.

GOETTERT, Jones Dari. Dos pés virados do Curupira. Rio branco: Edufac, 2006.

HAESBAERT, Rogério; PORTO- GONÇALVES, Carlos Walter. A nova des-ordem mundial. São Paulo.UNESP, 2006.

MORAIS, Maria de Jesus. “Acreanidade”: Invenção e reinvenção da identidade Acreana, 2008.

NED LUDD. Urgência das Ruas: Black Block, Reclaim the Street e os Dias de Ação Global. São Paulo. Conrad, Coleção baderna, 2002.

Repensar la política. Em la era de los movimientos y de las redes. Coletivo política em red, Icaria, 2007 RYOKI, André. Estamos vencendo!: Resistência global no Brasil/ André Ryoki (fotos)e Pablo Ortellado. São Paulo. Conrad, coleção Baderna, 2004

SILVA, Daniel. I. A. As armadilhas do consenso: O mito do Estado protetor e a servidão repensada. UFAC (monografia de graduação em Ciências Sociais). 2008.

POMPERMAIER, Armando. Psicorevolução. Rio branco- AC: Cia Irreverente, 2009.

1.0 Zines

Coice Core Zine – nº 2 – jan/2007
Rua: seringueira nº 0319 – vila da amizade – Rio Branco – Ac
andresonhc@hotmail.com
bielleee@bol.com.br
guerrillapa44@bol.com.br
Editor; Nonoca banda Guerrilla PA 44

Tukandera Zine – nº 1 – Nov/dez/07
Cx. Postal 1255 – 69909-970 – Rio Branco – Ac
Editor: Ricardo, Coletivo Carapanã, Coletivo Lagartixa, Movimento Passe Livre.




 Por: Nonoca (Nonökaus) e Leno